terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

INJUSTIÇA AMERICANA

A palestra do aclamado e premiado crítico da revista The New Yorker , Paul Goldberger, no Seminário Arq.Futuro atraiu grandes nomes da arquitetura brasileira como Jorge Wilhein, Ruy Ohtake e Isay Weinfeld, dentre outros. E parece que eles concordam com os posicionamentos de Goldberger, principalmente quanto a necessidade de maior valorização dos espaços públicos urbanos e não somente de edifícios frutos de uma arquitetura cenográfica. Brasília, segundo ele teria dito, foi pensada mais para servir como um belo cenário do que para ser funcional (transcrição de trecho de reportagem do site Terra de 21/11/11). Não creio que Goldberger tenha sido justo com Brasília. A monumentalidade de Brasília não deve ser confundida com a deliberada cenografia de intervenções urbanas contemporâneas, destinada a promover o marketing urbano e a valorização imobiliária de áreas urbanas economicamente degradadas. Aqui o plano urbanístico de Lucio Costa e a arquitetura de Niemeyer se casam perfeitamente em um conjunto urbano magistral, reconhecido como patrimônio da humanidade. Reconhece-se, contudo, que os espaços públicos em Brasília têm sofrido com o descaso do poder público e da própria população. Uma das razões pode ser a concepção modernista de espaço público na qual extensas áreas verdes tornam a sua manutenção cara e o seu usufruto restrito e disperso. De fato, Brasília carece de espaços públicos mais constituídos como nas cidades mais densas e compactas, o que facilita o convívio social, os deslocamentos a pé e o uso dos transportes coletivos. Mas mesmo nessas cidades, de urbanismo mais tradicional, os espaços públicos também não têm recebido tratamento adequado, para ficar restrito ao caso brasileiro. Ao contrário, em cidades européias se percebe uma valorização dos espaços públicos urbanos (agora ameaçada pela crise), mas que está objetivamente ligada aos interesses turísticos e imobiliários. No Brasil, mesmo com Copa do Mundo e Olimpíadas, parece que nem o interesse econômico motiva investimentos do poder público e dos empresários. O traçado urbano de Brasília, portanto, não é a principal razão para a má qualidade dos seus espaços públicos. Mesmo que a morfologia urbana dispersa gere dificuldades para melhor qualificar e cuidar dos espaços públicos, parece ser a nossa cultura mais inclinada ao patrimonialismo do que ao coletivismo uma explicação mais apropriada para esta falência do espaço público nas cidades brasileiras e não só em Brasília. Publicado originalmente no Blog da Jornalista Conceição Freitas Link: http://www.dzai.com.br/blogdaconceicao/blog/blogdaconceicao?tv_pos_id=94300

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