segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Brasília e Christopher Alexander

Comentário ao post sobre Christopher Alexander de Renato Saboya Não nasci em Brasília, mas vivo nessa cidade há 51 anos. Tive o privilégio de passar a infância na SQS 308, que é um modelo exemplar de superquadra inserida na única unidade de vizinhança completa implantada em Brasília. Comparando-a com outras áreas residenciais em cidades tradicionais no Brasil, que também conheci e morei durante algum tempo, posso dizer que não existe lugar mais aprazível e seguro para se viver a infância. Além disso, a unidade de vizinhança das SQS 308/108/307/107 proporcionava deslocamentos a pé e a curta distância para escolas (modelo de educação integral), comércio, posto de saúde, clube, cinema, biblioteca e outros equipamentos urbanos; possuía paisagismo projetado por Burle Marx e áreas de lazer de qualidade excepcional. Tinha tudo o que se reivindica hoje em dia para uma área urbana sustentável e tem sido previsto nas cartilhas do Novo Urbanismo. Certamente é uma das melhores e raras experiências do urbanismo moderno que deram certo no mundo, mas infelizmente é um modelo que não se repetiu em outras superquadras de Brasília e muito menos no urbanismo modernista que se reproduziu no DF.
Brasília tem qualidades urbanas inquestionáveis, mas é preciso reconhecer que também padece da maior parte dos males apontados por seus críticos, como alta dispersão urbana, excessiva dependência do transporte individual, rigidez no zoneamento e setorização, má qualidade dos espaços públicos, etc. As hierarquizadas estruturas em árvore descritas por Alexander estão presentes nas superquadras de Brasília e geram dificuldades para escoamento do trânsito dos veículos de uma população altamente motorizada e dificultam as conexões urbanas e as interações sociais, como apontado pelas análises da sintaxe espacial, para citar apenas dois dos problemas por elas gerados.
Contudo, se formos perguntar aos moradores do Plano Piloto de Brasília, se eles gostam da cidade (como sugere o comentário de Jose Priester), a maior parte provavelmente diria que sim e muito. Uma expressiva parte dos moradores de Brasília veio de outras cidades e apreendeu a se adaptar às vicissitudes do seu traçado e modo de vida urbana modernistas. Os que nasceram aqui talvez sejam mais enfáticos na sua declaração de amor à cidade. Pode se dizer, assim que as qualidades de Brasília superam seus defeitos. Ou talvez, como admitiu o próprio Lucio Costa, que os moradores de Brasília “tomaram conta daquilo que não foi concebido por eles” e não era uma “flor de estufa”, adaptando-a a uma vida urbana viva e mais próxima da realidade do que a que resultou da cidade-maquete planejada. Sérgio Ulisses Jatobá
Fonte:http://bentoviana.wordpress.com/2012/07/24/brasilia-vista-do-ceu-45/

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