sábado, 23 de agosto de 2008

Cidades Médias e Metrópoles.



Está na mídia: as cidades médias e pequenas são as novas estrelas do desenvolvimento urbano brasileiro recente enquanto as metrópoles e as cidades com mais de 500 mil habitantes têm seus problemas urbanos acentuados. Estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) confirma que as cidades médias (100 a 500 mil habitantes) tiveram o maior crescimento populacional, entre 2000 e 2007, e o maior aumento do PIB (Produto Interno Bruno), entre 2002 e 2005 em comparação com as demais cidades brasileiras. O PIB per capita das cidades médias também subiu, evidenciando que não só houve crescimento da riqueza, como também melhoria na sua distribuição. Reportagens do Jornal O Estado de São Paulo, da TV Globo, além de outros meios de comunicação repercutiram os resultados do estudo e mostraram a prosperidade crescente nas cidades que despontam no interior do país. A revista Veja estampou em reportagem de capa na sua edição de 24 de julho de 2008, os oito motores que impulsionam a retomada do crescimento econômico brasileiro (soja, álcool, petróleo, carne, automóveis, mineração, indústria têxtil e portos) e o efeito que eles estão produzindo nas cidades de porte médio e pequeno que gravitam nas suas respectivas áreas de influência.

Já as cidades com mais de 500 mil habitantes e principalmente as grandes metrópoles têm freqüentado mais as páginas policiais dos jornais do que as de economia. As cidades com mais de 500 mil habitantes estão mal no aspecto social e perdem espaço no aspecto econômico. Sua participação no PIB nacional reduziu-se de 43,34% em 2002 para 41,70% em 2005. Na população total a redução percentual foi de 29,81% para 29,71%, segundo o mesmo estudo do IPEA. Estudo do Ministério do Planejamento, baseado em dados da PNAD 2001, 2002, 2003 e 2004, pesquisou 10 regiões metropolitanas (Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo, Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Brasília ) e constatou que a participação delas no PIB nacional reduziu-se de 43,4% em 2001 para 41,04% em 2004, uma variação negativa de 5,45%.

Estudo mais recente, da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) apresenta um índice que refletiu a evolução socioeconômica dos municípios brasileiros de 2000 a 2005 e aponta que dos 100 municípios mais bem colocados no ranking elaborado, 82 têm menos de 300 mil habitantes, sendo que destes 42 têm menos de 100 mil habitantes. A pesquisa constata que as cidades pequenas e médias aparecem entre as que mais avanços tiveram nos indicadores de saúde, educação e renda. Apesar da maior parte dos municípios mais bem colocados se localizar no Estado de São Paulo, o que indica ainda uma concentração do desenvolvimento na parte sul do país, há claros indícios de melhora em municípios do Nordeste e um considerável avanço dos indicadores socioeconômicos nos municípios do Centro-Oeste. Comparando-se os mapas de 2000 e 2005 do IFDM- Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (ver figuras acima - Fonte: Firjan/IFDM) é possível perceber o deslocamento do desenvolvimento em uma grande mancha que avança do Sul para o Centro-Oeste e depois se bifurca em duas direções, uma em direção à Rondônia e a outra em direção à Belém. Não coincidentemente estas duas manchas menores estão nos eixos das rodovias Brasília-Acre / Cuiabá-Santarém e Belém-Brasília, abertas no governo JK e propostas no seu Plano de Metas como os principais eixos de interiorização do desenvolvimento.

Tudo isto indica que algo está mudando no quadro urbano brasileiro. Melhor dizer que mudanças que já vinham sendo observadas desde a década de 1970/80, se acentuaram nos últimos anos e tendem a modificar a configuração da rede urbana brasileira, destacando novos eixos e pólos de crescimento urbano. As metrópoles ainda concentram a maior parte da riqueza e da população, mas também estão na frente quando se trata de elencar os principais problemas urbanos. O desenvolvimento se desconcentra e se desloca, realizando, enfim, a idéia da interiorização do país, pensada há 292 anos, quando primeiro se propôs a mudança da capital federal para o interior do país. Brasília, plantada no meio do Planalto Central e deslocada do eixo econômico e urbano do litoral, foi a mais forte manifestação da intenção política de expansão da fronteira do desenvolvimento nacional que se fortalece atualmente.

P.S – Espero comentários. O tema é vasto e controverso e exigiria, a rigor, um tratamento mais acadêmico. Minha intenção, no entanto, é mais informativa e por isso a abordagem é tipicamente jornalística. As idéias, contudo, estão aí para serem debatidas, refutadas, complementadas ou apoiadas.

Nenhum comentário: