domingo, 24 de outubro de 2010

ELEA BRASÍLIA 2010

ELEA 2010 ENCONTRO LATINO AMERICANO DE ESTUDANTES DE ARQUITETURA

Vídeo de divulgação do mais recente Encontro Latino Americano de Estudantes de Arquitetura, realizado em Brasília em outubro de 2010. O Vídeo é bem feito,tem um ritmo de clip com imagens interessantes da cidade, música de Lenine, Chico Science e uma revigorante atmosfera jovem que também se percebia no local do evento: uma verdadeira cidade de barracas de camping montada no Parque de Exposições da Granja do Torto. O Encontro reuniu 6000 estudantes de seis países latinoamericanos e teve uma intensa programação com oficinas, cursos, palestras e mesas redondas. Participei de uma delas, falando sobre planejamento urbano e meio ambiente para aqueles jovens e captei um pouco de toda aquela boa energia da juventude.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

BRASÍLIA EM 50 LINHAS



Céu de Brasília, traço do arquiteto, gosto tanto dela assim”.

“A cidade acalmou, hoje depois das dez, na janela a fria luz, da televisão divertindo as famílias... nada existe como o azul sem manchas do céu do Planalto Central e o horizonte imenso aberto sugerindo mil direções”.

“Mas da próxima vez que eu for a Brasília, eu trago uma flor do cerrado pra você”.


Uma cidade pode ser cantada em prosa, verso e notas musicais. O céu, a arquitetura, a delicada beleza das flores do cerrado fazem parte do imaginário de Brasília e inspiram poetas e cantores. Ultimamente, contudo, a cidade tem sido mais lembrada por fatos que inspiram mais indignação do que poesia. Destaco dois deles. Um, já bastante conhecido e comentado, é o da rede de corrupção que envolve seus políticos e governantes. O outro, uma experiência de uma ONG que simulou uma pesquisa em várias capitais do Brasil para ver a reação da população a lançamentos imobiliários absurdos que agrediam abertamente a legislação urbanística e ambiental. Nesta pesquisa, Brasília foi a capital com a maior porcentagem de pessoas entrevistadas que não questionou o projeto e até se dispôs a comprar o imóvel, mesmo sabendo, ou desconfiando, que este afrontava totalmente a lei e maculava um patrimônio da cidade, o Lago Paranoá. Sintomático, em uma cidade na qual a ocupação irregular de áreas se tornou uma prática comum a todas as classes sociais e o respeito ao espaço público e ao patrimônio coletivo um cuidado desprezado.

Em Brasília, a inventada beleza do concreto armado e do plano urbano se contrapõem à preexistente beleza da paisagem natural; o planejado se debate com o espontâneo, as artimanhas nefastas do poder convivem com a criatividade dos seus artistas; a opulência do luxo da parcela abastada da população se contrasta com a extrema pobreza dos habitantes da suas longíguas periferias. Nada mais parecido com o retrato do próprio Brasil. Brasília, ícone de uma modernidade desejada, exacerba contrastes que já existiam no Brasil arcaico e ainda persistem.

Aos 50 anos talvez Brasília não merecesse ser lembrada pelas mazelas dos maus políticos e maus cidadãos que aqui habitam ou só pousam temporariamente. Deve ser lembrada, sim, como a capital de uma esperança utópica construída pelo sonho de visionários que aqui vislumbraram a gênese de um projeto de urbanidade e modernidade brasileiras. Utopia e sonho que, as vezes, são indevidamente apropriados por demagogos de plantão, que criam imagens irreais da cidade para delas tirar proveito próprio.

Brasília deve ser lembrada por aqueles que a construíram, pelos que continuam a construí-la, por todos os brasilienses de nascença e adoção que transformaram a urbs concebida por inteiro no traço singelo de um arquiteto na civitas assumida, amada e apropriada por uma população que aqui busca construir uma identidade urbana.

A cidade acalmou hoje depois das dez, após a notícia de mais uma tragédia ou de um escândalo nacional e da novela que maqueia a vida para melhor vender ilusões. Mas nada existe como o azul que não se mancha do céu do Planalto Central e o horizonte imenso aberto, sugerindo outras direções. E eu, pensando em “outro sonho feliz de cidade” nem sei, como diz o poeta, “se foi bebedeira louca ou lucidez”.