sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

BAIRRO SUSTENTAVEL DE HAMMARBY EM ESTOCOLMO

Quais seriam as condições necessárias para que um bairro ecológico como este pudesse existir em uma cidade brasileira? Precisaríamos alcançar o nível de desenvolvimento humano de Estocolmo/Suécia antes de pensar na viabilidade de áreas urbanas com essa qualidade no Brasil? Ou será que nas nossas "cidades partidas" e socioespacialmente segregadas, bairros ecológicos só seriam possíveis nas áreas de alta renda ou nos condomínios urbanos de luxo? Se respondermos sim na pergunta anterior, ainda nos perguntaríamos porque empreendimentos de luxo vendidos como se fossem sustentáveis tem muito mais marketing do que soluções efetivamente sustentáveis. Por exemplo, como definir como sustentável um condomínio de alta renda situado na periferia, que reforça a dependência do carro e o espraiamento insustentável da cidade? E seria sustentável um bairro dito ecológico, situado na área central de Brasília, mas ainda assim fortemente dependente do transporte individual e no qual a necessidade de vagas de garagem obriga a uma crescente ocupação do espaço publico de subsolo e as vias projetadas já estão fadadas a não suportar o volume de tráfego nas horas de pico? E o que dizer das periferias urbanas que nem ao menos têm a infraestrutura urbana básica de saneamento, como abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, coleta de lixo, drenagem urbana, primeiros itens de sustentabilidade a serem atingidos? Além disso, não há espaços públicos de qualidade, áreas de lazer,calçadas decentes, arborização urbano, parques, etc. Será então que a sustentabilidade urbana ainda é uma meta muito longe de ser alcançada nas cidades brasileiras ou pode se pensar que mesmo as hoje sustentáveis e qualificadas cidades europeias, que já foram também muito insustentáveis em um passado não tão distante, conseguiram com boa gestão superar obstáculos e implantar bons projetos? Ou pensar que não é necessário usar somente o exemplo europeu, com uma realidade socio cultural bem diferente da nossa e buscar em cidades latino americanas, como Bogotá, experiências de sustentabilidade envolvendo qualificação de áreas de periferia e soluções eficientes de transporte público coletivo? Há muitos questionamentos e reflexões a ser fazer quando se pensa em sustentabilidade urbana e se constata que nem a desigualdade socioespacial nem as diferenças culturais com as sociedades mais ricas são razões suficientes para justificar a baixa qualidade dos espaços públicos e a insustentabilidade geral das cidades brasileiras.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

INJUSTIÇA AMERICANA

A palestra do aclamado e premiado crítico da revista The New Yorker , Paul Goldberger, no Seminário Arq.Futuro atraiu grandes nomes da arquitetura brasileira como Jorge Wilhein, Ruy Ohtake e Isay Weinfeld, dentre outros. E parece que eles concordam com os posicionamentos de Goldberger, principalmente quanto a necessidade de maior valorização dos espaços públicos urbanos e não somente de edifícios frutos de uma arquitetura cenográfica. Brasília, segundo ele teria dito, foi pensada mais para servir como um belo cenário do que para ser funcional (transcrição de trecho de reportagem do site Terra de 21/11/11). Não creio que Goldberger tenha sido justo com Brasília. A monumentalidade de Brasília não deve ser confundida com a deliberada cenografia de intervenções urbanas contemporâneas, destinada a promover o marketing urbano e a valorização imobiliária de áreas urbanas economicamente degradadas. Aqui o plano urbanístico de Lucio Costa e a arquitetura de Niemeyer se casam perfeitamente em um conjunto urbano magistral, reconhecido como patrimônio da humanidade. Reconhece-se, contudo, que os espaços públicos em Brasília têm sofrido com o descaso do poder público e da própria população. Uma das razões pode ser a concepção modernista de espaço público na qual extensas áreas verdes tornam a sua manutenção cara e o seu usufruto restrito e disperso. De fato, Brasília carece de espaços públicos mais constituídos como nas cidades mais densas e compactas, o que facilita o convívio social, os deslocamentos a pé e o uso dos transportes coletivos. Mas mesmo nessas cidades, de urbanismo mais tradicional, os espaços públicos também não têm recebido tratamento adequado, para ficar restrito ao caso brasileiro. Ao contrário, em cidades européias se percebe uma valorização dos espaços públicos urbanos (agora ameaçada pela crise), mas que está objetivamente ligada aos interesses turísticos e imobiliários. No Brasil, mesmo com Copa do Mundo e Olimpíadas, parece que nem o interesse econômico motiva investimentos do poder público e dos empresários. O traçado urbano de Brasília, portanto, não é a principal razão para a má qualidade dos seus espaços públicos. Mesmo que a morfologia urbana dispersa gere dificuldades para melhor qualificar e cuidar dos espaços públicos, parece ser a nossa cultura mais inclinada ao patrimonialismo do que ao coletivismo uma explicação mais apropriada para esta falência do espaço público nas cidades brasileiras e não só em Brasília. Publicado originalmente no Blog da Jornalista Conceição Freitas Link: http://www.dzai.com.br/blogdaconceicao/blog/blogdaconceicao?tv_pos_id=94300