segunda-feira, 27 de outubro de 2008

BRASÍLIA E SUA CRESCENTE REDE DE INFLUÊNCIA

A mais recente versão do estudo “Regiões de Influência das Cidades” do IBGE – REGIC 2008, alçou Brasília à condição de metrópole nacional, atrás somente de São Paulo, classificada como a grande metrópole nacional, e de Rio de Janeiro, a outra metrópole nacional. A área que compõe a região de influência de Brasília abrange 298 municípios, uma superfície total de 1.760.734 Km2 e uma população de 9.680.621 habitantes, que a coloca a frente de outras nove metrópoles, que junto com São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília compõem o conjunto dos 12 centros urbanos mais influentes do pais.

A quarta versão da REGIC (as anteriores são de 1972, 1987 e 2000) confirma o que já vinha sendo apontado em outros estudos, que a influência de Brasília não se limita as cidades do Distrito Federal e aos municípios do seu entorno imediato, que compõem o que se convencionou chamar de Área Metropolitana de Brasília. A rede de influência de Brasília abrange municípios situados em Goiás e atinge cidades no noroeste de Minas e no oeste da Bahia, como Barreiras, classificada como capital regional C e Bom Jesus da Lapa, classificada como Centro Sub-regional B. Além disto, comanda, em conjunto com São Paulo, as redes de Cuiabá e Porto Velho, o que amplia em muito a sua área, que assim atinge Mato Grosso, Rondônia, Acre e pequena parcela do Amazonas.

O Estudo do IBGE destaca que apesar de estar situada na terceira posição de importância no país, a rede de Brasília ainda é pequena em relação às de São Paulo e Rio de Janeiro, representando 2,5% da população do País e 4,3% do PIB nacional. Entretanto tem algumas características que se destacam: tem o mais alto PIB per capita entre todas as redes (R$ 25.300,00) e concentra 72,7% da população e 90,3% do seu PIB no seu centro, ou seja, em Brasília. Isto evidencia o papel concentrador de renda e de população que Brasília exerce na sua região de influência. É se por um lado isto se deve a presença do governo federal aqui, cada vez mais a economia local se fortalece com o crescimento do setor empresarial, basicamente terciário. No entanto, é inegável que são os recursos do setor público que turbinam o dinamismo econômico da capital.

Outra pesquisa do IBGE divulgada recentemente confirma, com base em dados de 2006, que os servidores públicos detêm 65% da massa salarial no DF (este percentual era de 60% em 1996) embora representem atualmente só 40% do total de empregados. A pesquisa do Cadastro Central de Empresas (Cempre) informa que em 2006 foram pagos R$ 28,7 bilhões em salários no DF, o que equivale a 5,7% do volume total do país e representa mais do que a soma de todos os outros estados da Região Centro-Oeste. A média salarial do trabalhador brasiliense é de R$ 2.440,00, mais do que o dobro da média nacional que é de R$ 1.208,64. A alta renda dos brasilienses aliada aos serviços contratados e compras efetuadas pela administração pública federal e do DF à empresas daqui faz com que um considerável volume de recursos circule na economia local. E como riqueza atrai gente e mais riqueza, explica-se porque Brasília é um centro com influência crescente no país.

Mas se este poder de atração dinamiza a economia local e aumenta seu grau de influência, drenando mais recursos para o DF, também faz com que os serviços públicos aqui sejam mais pressionados. Um exemplo típico e já bastante conhecido é o da rede pública de saúde que atende gente que vem das mais diversas localidades da região de influência. Outros vêm para Brasília para trabalhar, estudar ou fazer compras. Tudo isto traz benefícios econômicos, mas também impacta os serviços públicos em geral, aumenta o número de veículos no trânsito, gera mais problemas de violência urbana. Talvez os impactos sejam maiores do que os benefícios porque a maior riqueza ainda é gerada dentro do próprio DF e a sua região de influência é em geral muito pobre. Alta renda e alta qualidade de vida e serviços públicos em relação à penúria deste entorno pobre são fatores que fazem com que Brasília continue atrair migrantes, mas que agora não mais conseguem se instalar dentro do Distrito Federal e fixam residência no Entorno. Este fenômeno aliado ao fato de que muita gente que morava no DF tem se mudado para cidades do Entorno fez com que o DF tem tido saldo migratório negativo nos últimos anos (fato que aliás também ocorreu em outros 14 estados brasileiros em 2006).

A crescente influência territorial do DF no país e a importância que sua área metropolitana vem adquirindo também revelam a acentuação da sua elitização e da segregação socioespacial que o caracteriza desde a sua origem. A população mais pobre já não consegue se instalar no interior do DF e a que está aqui vai sendo afastada para fora do seu quadrilátero na medida em que a a valorização do espaço urbano torna o preço de morar no DF impraticável para os que não têm renda suficiente para tal. Pode se dizer, então, que um proceso de gentrificação se estende dos núcleos centrais do DF para os núcleos na periferia do centro e assim por diante, pois todo o DF tende a se tornar um centro mais elitizado desta região de influência.